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A Fragilidade e Sua Relação com Doenças Neurológicas

A fragilidade é um estado clinicamente identificável de reserva fisiológica diminuída e vulnerabilidade aumentada a uma ampla gama de efeitos adversos à saúde. De forma prática, podemos dizer que é estar inapto ou aquém de suas capacidades físicas e mentais em relação à faixa etária. A fragilidade torna-se mais comum à medida que as populações envelhecem.

A característica primordial da fragilidade é o aumento do risco de resultados adversos para a saúde, incluindo incapacidade, necessidade de cuidados de saúde a longo prazo e morte. Esse risco manifesta-se como uma capacidade reduzida de resistir a lesões que normalmente não seriam tão impactantes (por exemplo, uma queda da própria altura resultando em uma fratura de quadril) ou maior dificuldade na recuperação de uma lesão (como a fratura do quadril, que demanda um tempo maior de recuperação do que o habitual).

A Prevalência da Fragilidade
Um estudo realizado em 62 países revelou que a prevalência de fragilidade entre pessoas que vivem na comunidade varia de 11% entre aqueles de 50 a 59 anos para 51% entre aqueles com 90 anos ou mais. Além disso, idosos internados em UTIs, residentes em lares de idosos, indivíduos que vivem em países de baixa ou média renda e aqueles em situação socialmente vulnerável correm maior risco de desenvolver fragilidade.

É fundamental considerar essa condição nos pacientes, pois a fragilidade aumenta a chance de uma doença se manifestar, deixando de ser apenas um “risco” ou uma “predisposição”. Por exemplo, um paciente sem fragilidade pode apresentar um biomarcador positivo para demência, mas não desenvolvê-la clinicamente. No entanto, a chance de evolução para a doença é maior naqueles que já apresentam fragilidade.

Fatores de Risco Além do Envelhecimento
O envelhecimento não é o único fator que favorece o surgimento da fragilidade. Outros elementos contribuem para seu aparecimento, como:
  • Isolamento social
  • Diabetes
  • Hipertensão
  • Obesidade
  • Sedentarismo
  • Baixo nível educacional
 
Identificação da Fragilidade
Para operacionalizar a fragilidade, diversas escalas clínicas podem ser utilizadas. Uma das mais simples é a escala fenotípica de Fried, que observa qualitativamente cinco manifestações clínicas:
  1. Perda de peso
  2. Diminuição da velocidade ao caminhar
  3. Sensação de exaustão
  4. Redução da capacidade de realizar atividades habituais (como tarefas domésticas mais pesadas)
  5. Diminuição da força de preensão palmar
  • Fragilidade → Presença de três ou mais características
  • Pré-fragilidade → Presença de uma ou duas características
  • Robustez → Ausência dessas características

Relação Entre Fragilidade e Doenças Neurológicas
A fragilidade e os distúrbios neurológicos interagem frequentemente. Na doença de Parkinson, por exemplo, a lentidão dos movimentos e o comprometimento da marcha podem levar à redução da atividade física e à perda de condicionamento. Além disso, dificuldades na deglutição, comuns em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) e Parkinson, podem contribuir para a perda de massa muscular e amplificar comportamentos sedentários, intensificando o estado de fragilidade.

Da mesma forma, distúrbios que afetam a marcha, força muscular, estado nutricional ou cognição (como demência e AVC) estão frequentemente associados ao envelhecimento e à fragilidade.

Dados Relevantes sobre a Fragilidade em Doenças Neurológicas
  • prevalência de fragilidade entre idosos com demência varia de 50,8% a 91,8% em unidades de cuidados intensivos e de 24,3% a 98,9% na comunidade em geral.
  • Em um estudo do UK Biobank17% das pessoas de meia-idade (<65 anos) e 54,9% das pessoas com 65 anos ou mais com esclerose múltipla foram classificadas como frágeis ou pré-frágeis.
  • Em pacientes com doença de Parkinson, as estimativas de fragilidade variam entre 3% e 79%.
  • Estudos indicam que a fragilidade também está associada à fase prodrômica da doença de Parkinson, sugerindo que ambas compartilham características ou mecanismos biológicos comuns.

A Fragilidade Como Fator de Risco Neurológico
A fragilidade pode potencializar os fatores de risco para doenças neurológicas, incluindo:
  • Idade cronológica
  • Nível educacional
  • Status socioeconômico
  • Predisposição genética
  • Fatores de risco vasculares
Além disso, já existem evidências que apontam a fragilidade como um fator de risco independente para demências, doença de Parkinson e AVC.

Como Gerenciar a Fragilidade?
A pedra angular do manejo da fragilidade é uma avaliação multidimensional e um plano de tratamento personalizado, revisado regularmente por uma equipe multidisciplinar. No Japão, por exemplo, estudos mostraram que pacientes com AVC acompanhados por uma equipe multidisciplinar apresentaram menor mortalidade e menor tempo de internação hospitalar.

Achados clínicos e laboratoriais que devem ser tratados de forma agressiva incluem:
  • Depressão
  • Anemia
  • Hipotensão
  • Hipotireoidismo
  • Déficit de vitamina B12
  • Condições médicas instáveis
  • Eventos adversos a medicamentos
O objetivo do manejo da fragilidade é preservar a reserva fisiológica e prevenir estressores, maximizando a qualidade de vida do paciente.

Intervenções Recomendadas
A maioria das diretrizes sobre fragilidade recomenda programas de atividade física personalizados, incluindo treinamento de resistência. O ideal é realizar de uma a quatro sessões semanais, com duração de 30 a 60 minutos cada. Além disso, outras práticas como ioga e tai chi ajudam a melhorar a mobilidade e a força muscular, contribuindo para reduzir quedas e melhorar a funcionalidade no dia a dia.

Outras Recomendações Importantes:
✔ Esquema vacinal atualizado conforme a faixa etária.
✔ Rastreamento de câncer conforme protocolos clínicos.
✔ Atenção às circunstâncias socioeconômicas do paciente, considerando como esses fatores impactam a saúde neurológica.

Conclusão
A fragilidade é um fator determinante na saúde neurológica, aumentando o risco de doenças como demências, Parkinson e AVC. O diagnóstico precoce e intervenções adequadas podem minimizar os impactos dessa condição, garantindo melhor qualidade de vida aos pacientes.

A identificação e o manejo adequado da fragilidade são essenciais para promover um envelhecimento saudável e preservar a autonomia dos indivíduos.