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A Relação entre Doença de Parkinson e Polineuropatia

A Doença de Parkinson (DP) é uma das condições neurológicas degenerativas de maior crescimento em todo o mundo. Ela se caracteriza pela deposição da proteína alfa-sinucleína nos neurônios produtores de dopamina no sistema nervoso. No cérebro, esse acúmulo está diretamente ligado à neurodegeneração. No restante do sistema nervoso, essa proteína está associada a sintomas não motores, como constipação, empachamento, descontrole pressórico, sudorese excessiva e polineuropatia.
O que é a Polineuropatia na Doença de Parkinson?
A polineuropatia (PNP) é uma disfunção dos nervos periféricos que pode causar sintomas sensitivos, motores e autonômicos. Estudos recentes indicam que a PNP tem uma prevalência de 55% a 70% em pacientes com Parkinson, enquanto na população em geral, esse percentual é de apenas 8%. Os sintomas incluem:
- Dormência e dor nos membros;
- Ataxia sensorial (caminhar instável devido à perda de sensibilidade nos pés);
- Fraqueza muscular;
Além da avaliação clínica, o diagnóstico de PNP é auxiliado pelo exame de eletroneuromiografia.
Parkinson, Comorbidades e a Relação com a Polineuropatia
Pacientes com Parkinson são, em sua maioria, idosos, e a presença de comorbidades é comum. Doenças como diabetes e doenças cardiovasculares podem estar relacionadas à DP e também à PNP.
O diabetes é um fator de risco tanto para DP quanto para PNP, sendo a principal causa de polineuropatia na população em geral. Outras causas de PNP incluem doenças reumatológicas, abuso de álcool, agentes tóxicos, deficiências vitamínicas, causas imunomediadas e fatores hereditários. Em cerca de 30% dos casos, a PNP nos pacientes com DP não está diretamente ligada à doença de Parkinson, mas sim a essas outras condições.
Subtipos de Polineuropatia na DP
A PNP pode ser classificada em dois subtipos, dependendo da espessura das fibras nervosas afetadas:
- PNP de Fibras Finas → Caracterizada principalmente por sintomas sensitivos como dormência e dor. Mais comum nas fases iniciais da DP.
- PNP de Fibras Grossas → Envolve perda de sensibilidade, força muscular e ataxia sensorial. Geralmente surge com a progressão da DP, mas pode ocorrer antes se houver comorbidades associadas.
O Impacto da Levodopa na Polineuropatia
Pesquisas indicam que o tratamento com levodopa pode influenciar o metabolismo das vitaminas B6 e B12, levando à deficiência dessas substâncias e contribuindo para a piora da PNP. O medicamento Entacapone pode ajudar a proteger contra essa complicação.
Se a PNP for diagnosticada, seja ou não associada à DP, e independentemente do uso de levodopa, é recomendável testar os níveis de vitamina B6, vitamina B12, homocisteína e ácido metilmalônico. Caso haja deficiência, suplementação pode ser benéfica para o alívio dos sintomas.
Tratamentos para Dor Neuropática
O Grupo de Interesse Especial em Dor Neuropática sugere os seguintes medicamentos de primeira linha para o tratamento da dor neuropática, independentemente da causa:
- Gabapentina e Pregabalina;
Antidepressivos tricíclicos (ADTs); - Inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina (IRSN), como venlafaxina e duloxetina.
Estudos indicam que a gabapentina pode ter efeitos positivos nos sintomas motores da DP, sendo uma boa opção para tratar tanto a dor neuropática quanto os sintomas motores.
Por outro lado, os antidepressivos tricíclicos devem ser usados com cautela, pois podem causar sedacão, deterioração cognitiva e até psicose, especialmente em pacientes idosos com DP avançada.
Como alternativas, também podem ser considerados tratamentos tópicos, como lidocaína ou capsaicina, para alívio localizado da dor.
A Importância da Avaliação Individualizada
Cada paciente é único. Nenhuma dessas condutas deve ser adotada sem a avaliação de um especialista, que determinará o melhor tratamento para cada caso. A escolha correta do tratamento impacta diretamente na qualidade de vida do paciente, tornando essencial o acompanhamento neurológico regular.
Fonte:
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