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Levodopa: Desvendando Mitos e Realidades no Tratamento da Doença de Parkinson
A levodopa é extremamente eficaz no tratamento dos sintomas motores da doença de Parkinson (DP). A maioria dos especialistas considera o uso desse medicamento um ingrediente vital para manter o movimento e a qualidade de vida na doença. Ele é o medicamento mais prescrito para a DP e tem sido a base do tratamento desde sua aprovação em 1969.
Apesar disso, muitos mitos cercam o uso da levodopa e fazem com que muitas pessoas hesitem em começar a tomá-la, mesmo depois de prescrita por um especialista. Vamos desmistificar alguns desses mitos e entender a importância da levodopa para o tratamento do Parkinson.
Mito #1: É Importante Adiar o Início da Levodopa para Evitar Flutuações Motoras e Discinesias
A DP é um distúrbio progressivo que avança lentamente ao longo de décadas. Muitas vezes, começa com sintomas como comportamento de vivenciar sonhos (transtorno comportamental do sono com movimento rápido dos olhos), constipação ou perda olfatória. Tipicamente, os sinais motores só aparecem anos mais tarde, quando 50% a 80% dos neurônios dopaminérgicos já foram perdidos.
Quando os primeiros sintomas motores surgem, geralmente inicia-se o tratamento com levodopa. No entanto, muitos acreditam que adiar o início da medicação também adiaria as flutuações motoras e as discinesias.
Mas o que são essas flutuações? Quando o paciente está sob o efeito do medicamento, sente-se melhor e mais disposto, experimentando uma importante diminuição dos sintomas — esse período é conhecido como tempo ON. Com o progresso da doença, começam a aparecer os tempos OFF: intervalos entre o fim do efeito do medicamento e o início da dose seguinte. Ou seja, o tempo de efeito da medicação diminui, e os sintomas retornam, “roubando” a energia do paciente.
As flutuações motoras representam essas oscilações entre os períodos ON e OFF. Já as discinesias são movimentos involuntários que surgem cerca de 5 a 7 anos após o diagnóstico, inicialmente durante o pico da dose de levodopa e, mais tarde, conforme os níveis de dopamina cerebral se tornam mais erráticos.
No início da DP, uma dose de levodopa pode durar seis horas ou mais. Porém, conforme a DP avança, cada dose alivia os sintomas por períodos mais curtos. É equivocado pensar que o efeito do medicamento diminui com o tempo de uso. Na verdade, o que diminui o tempo de efeito é a progressão da doença.
Conclusão: Guardar a levodopa para mais tarde ou limitar a dose não confere benefícios futuros. Na verdade, isso pode prejudicar a função durante os primeiros anos da DP, quando o tratamento ideal poderia proporcionar uma qualidade de vida próxima do normal. Adiar o tratamento significa perder qualidade de vida, e as flutuações motoras e discinesias aparecerão de qualquer forma com o avanço da doença. Confiar no tratamento médico é fundamental.
Mito #2: A Levodopa Perde Eficácia com o Tempo
Com a progressão da DP, ocorre a morte contínua dos neurônios dopaminérgicos, e o cérebro passa a produzir cada vez menos dopamina. Consequentemente, a pessoa com DP precisa de mais medicamentos contendo dopamina para compensar essas mudanças.
No início, a resposta à levodopa é duradoura, acumulando-se ao longo de uma semana com níveis cerebrais e sanguíneos estáveis (chamado efeito de longa duração). Com o passar dos anos, o efeito benéfico passa a depender da duração de cada dose, conhecido como resposta de curta duração. Essa mudança reflete a evolução da DP e não a duração do uso da levodopa. Após 10 a 20 anos, a resposta à levodopa não é tão intensa como no início, refletindo a progressão do processo neurodegenerativo.
Portanto, o aumento da dosagem de levodopa ao longo do tempo não significa que o medicamento está perdendo eficácia, mas sim que a doença está progredindo.
Além disso, à medida que a DP avança, surgem sintomas que não respondem à levodopa, como falta de equilíbrio, fadiga, depressão, problemas de sono, dificuldades cognitivas, variações na pressão arterial, problemas urinários e constipação. Esses sintomas não motores reforçam a ideia equivocada de que a levodopa perde eficácia com o tempo.
Mito #3: A Levodopa Causa Efeitos Colaterais Intoleráveis para Muitas Pessoas
A levodopa pode apresentar efeitos colaterais, como náusea, fadiga, tontura e alucinações, especialmente se iniciada em doses altas. No entanto, com paciência, é possível, junto ao neurologista, ajustar a formulação e a dose de levodopa para torná-la tolerável e eficaz no controle dos sintomas de DP.
Em alguns casos, o neurologista pode prescrever medicamentos adicionais para tratar efeitos colaterais. A ansiedade relacionada ao uso da levodopa também pode influenciar a tolerância ao medicamento, e, nesses casos, tratar a ansiedade subjacente pode ser benéfico.
As discinesias, um efeito colateral comum da levodopa, ocorrem com o tempo. No entanto, elas variam de leves a graves, e, em muitos casos, são minimamente perceptíveis. O neurologista trabalhará com o paciente para ajustar a dose e minimizar as discinesias. Em alguns casos, medicamentos específicos podem ser prescritos para ajudar.
Mito #4: A Levodopa É Tóxica para os Neurônios e Contribui para a Progressão da Doença
Essa questão foi estudada extensivamente ao longo de três décadas, sem evidências conclusivas de que a levodopa seja tóxica para os neurônios ou acelere a progressão da doença. Pelo contrário, a levodopa demonstrou melhorar a qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida em pessoas com DP, argumentando fortemente contra a ideia de que acelera a doença.
O uso prolongado da levodopa não está associado a consequências adversas a longo prazo. Sua eficácia é incomparável para pessoas com DP, e compreender os fatos sobre a medicação é essencial para não se deixar influenciar por mitos que possam limitar seu potencial benefício.
Conclusão
A levodopa é um pilar fundamental no controle dos sintomas motores da doença de Parkinson e na manutenção da qualidade de vida. Desmistificar essas crenças e entender o que realmente acontece com a progressão da doença é fundamental para uma abordagem de tratamento segura e eficaz.
Se você tiver dúvidas ou precisar de orientações, entre em contato e saiba mais sobre como o tratamento com levodopa pode ser ajustado às suas necessidades.